quarta-feira, 21 de abril de 2010

Ótica de vizinho que veio do nordeste

"Olí, meu povo, eu vô contá o que acunteceu cum uma família alí perto du riu.
Um homi dexô a mulé e us fíu e foi se imbora numa canoa. Cumu é qui pode?
eu ja vi di tudo nessa vida, mas esse homi aí é mucho loco! Ele dexô a mulé
que é um pitéu e se debando pra num sei donde numa canoa véia. Se ainda
fosse nun iati, eu ainda digo, mas numa canoa?! Será que a mulé dele num
num tinha os dente e tala loco pra ir embora? Mas ói, coitado dus fíu dele!
Tão tudo doidinho, doidinho!!! Todo Santo dia dexu cumida na bera du riu,
será que eles num sabi que iemanjá é nu mar e nao nu rio???
E a irmã dele, qui levó o mininu dela, dexó o bichiu no sol quente da peste
e fico gritando pelo pai!! Ô povo doidio!!! Mas o mais ingraçado foi quando o
fiu mais homi disse que tinha visto o fantasma du pai e se cagó todinho!
Gente, eu tenho aqui com a minha bestera, que esse homi, saiu daqui ás
pressa numa canoa véia por que foi ele qui ganhó nessa mega sena e de
doidiu ele não tem nada!!!"

Verena Vieira

Ótica do pai


Cansado já estava decidir sair da minha casa, e abandona minha família, não agüentava mais aquela mesmice.Então mandei fazer uma canoa bem resistente para durar pelo menos três décadas, para pensar e viver minha vida solitariamente.Não quero levar nada porque não quero ter lembranças.
Remei, remei, remei e acenei, fiu embora para nunca mais voltar, a margem que me espere porque ela que vai ser a minha família, estava passando por momentos dificies que nem se explicar, era então um problema meu e do rio.


Felippe Batista



Ótica da estrela

Nascer de novo...
Buscar algo que não se vê...
Encontra com o nada...
Viver sem nada...
Amar sem fronteiras...
Pobre homem que nada sabia...
Nem mesmo o que dizia...
Pobre familia!
Sem amor, sem nome...
Pobre cidade...
Amiga floresta...
De céus em cores
Virtudes em nomes...
Doces sabores...
Rema pobre coitado...
Sou eu a ti guiar, nas noites frias sem luar...
Me pede que eu te guarde...
Que eu te proteja...
Que te gui!
Que te leve de volta...
Triste a remar...
Pobre homem...
Sem dor,sem nome!!!
Apenas um homem....

Por Vagda Santana em 20 de abril de 2010. Baseado na obra de Guimarães Rosa, A Terceira Margem do rio.

Ótica do pai


A vida aqui segue andando pacata, ordeiro, igual...  E eu como as outras pessoas desse lugar, acompanho o ritmo dessa vida.
Consideram-me um homem cumpridor dos deveres, ordeiro e quieto e é dessa maneira que minha família me enxerga, por fora é de fato  assim que sou. Estaria tudo certo e normal se por fora se combinasse, fosse igual por dentro, mas não é o que acontece.
                Por dentro, porque tanta insatisfação, tantos questionamentos e esse turbilhão de sensações e aflições, essa eterna agonia?  Inquietude... Pasmaceira.
Cheguei à conclusão, observando-o por minha vida toda, que sou como ele -o rio - quieto, ordeiro, silencioso... Mas basta ser provocado, por um rajado de vento que seja pra ele se rebelar e quando por uma tempestade então..., para que se conheça a sua força, a sua fúria, a sua grandeza, aí ele se mostra gigantesco, poderoso, como realmente é a sua natureza.
O que verdadeiramente existe nas suas profundezas e da sua misteriosa existência, ninguém seguramente sabe.
Continuo sonhando constantemente com o rio, confundo a minha realidade com o sonho do rio. Eu sou eu, eu sou o rio, o rio sou eu...
Agora sim... nesta minúscula canoa, eu me completo com o rio e o rio se confunde comigo, estou calmo, ordeiro, quieto em paz com a minha natureza... Eu sou a terceira margem do rio.

SELMA MARIA SANTOS BRANDÃO

Ótica do neto

[Escrevi o conto na visão do neto. Escrevendo um carta pro tio que foi morar na cidade]

Tio,
O senhor sabe que quando eu cheguei, ele já tinha partido, tudo que eu sei foi porque minha mãe me contou. Lá no vilarejo fiquei conhecido como Simba, depois descobri o porque, foi quando em cima de uma pedra e sob a sombra de um guarda-sol fui erguido diante do rio. Queria ter conhecido meu avô, homem honesto, amigo de todos, queria ter conhecido, principalmente, pra saber porque ele foi embora, cada um diz uma coisa diferente, mas só ele poderia me contar o verdadeiro motivo que o fez partir, quem sabe eu não partisse junto com ele.
Faz tempo que não vou para a margem do rio, vovó não gosta, ela diz que não é bom ficar lembrando dos que já partiram, mas eu sei que ela ficaria plantada na margem se pudesse, ela não se juntou com mais ninguém, e de noite quando finjo dormir, percebo nos olhos cheios d’água dela um brilho de esperança, de que ele amanhã estará batendo na porta. Mas como seria possível? Ele nem mesmo sabe onde moramos, meu tio continuava lá sozinho, fazia tempo que não escrevia uma carta pra gente. Na ultima, ele disse que o vovô acenou pra ele, mas com medo, saiu correndo.
Em alguns dias vou pra lá, vou passar um tempo com meu tio - escolha minha - mamãe não gostou, mas entendeu, ele precisa de alguém lá, não tem mais vida, a vida dele é a vida do pai, e se é pelo meu avô, partia hoje se eu pudesse.
O titio está acabado, nem o reconheci quando cheguei, a casa quase não era mais casa, a madeira dava de comer aos cupins. Dia e noite, sol e chuva, seu irmão não sai da margem do rio, se eu não levar o que comer, ele não vem buscar.
Mesmo depois de tantas e tantas luas, o vovô ainda é comentado pela cidade. Me contaram que toda lua cheia os mais chegados se reúnem na margem do rio e rezam. Eu mesmo, já presenciei algumas vezes, uns pedem milagres, outros agradecem o que conseguiram. Confesso que não entendo, meu avô virou Santo? Entidade? Deus? Porque ele não continuou sendo apenas meu avô, e ficado por aqui?
O titio não anda muito normal, um dia desses tive a impressão de que ele tava conversando com uma pedra. Peixe nem comemos mais, ele disse que qualquer coisa que vem do rio pode ser um pedaço do vovô, e que ele vai sentir dor. Sei que não teria como isso acontecer, mas obedeci. O problema é que o almoço demora mais pra sair, porque caçar na floresta não é fácil.
A vovó reclamava que o senhor não deu mais noticias desde que foi embora, mas vi aqui algumas cartas do senhor, acho que o senhor não sabe, mas a vovó foi morar com a mamãe, por isso ela não recebia suas cartas, mas vou mandar pra ela todas que o senhor mandou pra cá, ela ficará feliz, ela vivia choramingando com a mamãe por não ter noticias suas. Falava: “Já perdi meu homem, um filho não quis vim comigo, e agora, o outro esquece que tem mãe! Só você mesmo pra lembrar de mim.”
O senhor agora tem uma sobrinha também, mamãe deu a luz um mês atrás. A casa era só alegria. Ainda mais quando deram o nome dela à neta. Só assim vi um sorriso no rosto da vovó depois de tanto tempo.
Assim que acontecerem novas coisas, eu escrevo pro senhor. Se cuide por ai.

Sobrinho.

(Autor: Diogo Favacho Arero)

Ótica do Pai

E fez-se mar. Ou melhor, fiz-me rio. Fiz-me rio para nunca morrer, porque rio não morre. Quando ele deságua no mar, ele continua sendo rio. Mar, rio, água, transparência, calmaria e loucura. Fiz-me rio para fugir de mim mesmo. Das minhas angústias, pequenezes e monstros. Para desmilinguir-me entre as suas claras águas. Para esquecer do passado.
E porque tão próximo de casa? Porque rio também ama e sente saudades. Quero, quando sou rio, molhar devagar os pés daqueles que amo e tive de deixar. Quero cochichar algo em seus ouvidos, dizer que estou bem, que estou onde eu sempre quis estar.
O amor que tenho pelo rio é tão imenso que não me contentava somente em tê-lo, queria sê-lo. Nunca tive a curiosidade de saber o que tinha na outra margem, o que de verdade sempre quis, foi ser margem. A terceira margem do rio e ali viver para nunca mais morrer.

Thainá Oliveira.
Por muito tempo minha mãe sofreu com a solidão. Todas as vezes que escutava o canto dos pássaros, o barulho do rio descendo a montanha em queda livre formando um lindo véu de noiva. Chegava a se emocionar! Partia o coração ao vê o silêncio da sua dor. Por muito, anos acompanhei seu sofrimento, não só pelo abandono do meu pai, mais pelas palavras das línguas maldosas daquele lugar, típico do interior.

Mas foi naquela tarde, uma tarde diferente de todas que já vi. Chovia! Mais não como aquela que estamos acostumados, com raios, trovão e alagamento. Não! Era uma chuva silenciosa, calma, fria, cautelosa. Cheguei a senti a ansiedade nos olhos de minha mãe ao escutar a melodia triste de um sabiá que temia em está ali nas árvores do jardim. O seu canto era como um chamado. Minha mãe passou a segui o seu canto, chovia muito. Ela não usara nem o guarda chuva, nem uma capa para se proteger, apenas quis segui o seu coração que voltava a bater forte. Ouve momentos em que o sabiá se aproximava, indicando-lhe o caminho a ser seguido, o mais engraçado é que ela entendia tudo, cada gesto daquele pequeno pássaro. Eu a seguia me escondendo por entre as arvores e moitas de mato que encontrava pelo caminho. Até chegamos as margens do rio.

O pássaro pousara em seu ombro esquerdo e um canto meloso fez, saí lágrimas de seus belos olhos. Como se falasse com ela. Eu nada entendia. A chuva era mais suave que seu canto, o rio enchera de borboletas brancas, azuis, amarelas, verdes, de todas as cores e formava um lindo balé, a melodia daquela canção. Uma nuvem branca, mais leve que um algodão cobria o rio. Um lindo espetáculo da natureza! Minha mãe não me via, pois, eu estava escondido por entre os arbustos próximo do rio.

Fazia muito frio, estávamos encharcados! Quando surge por entre as águas mansas do rio, aquele homem de barba branca, roupas surradas, chapéu de palha e uma capa de couro velho. Suas mãos remavam tranquilamente, levando a canoa até as margens do rio. Qual não foi o meu espanto ao reconhecer que aquele homem era o meu velho e amado pai. Ele já não era o mesmo! Senti uma vontade louca de vê-lo de perto, abraça- lo, e dizer a ele o quanto eu o amava. Mais era a minha mãe que ele chamava! Seus olhos cruzaram aos dela, como se os orixás, guinômos, fadas, e todos os deuses da floresta os uni-se em um só coração.

Ele desceu da canoa, suas botas já não eram as mesmas. Minha mãe não sabia se odiava ou se o abrasava. Ele tocou seu rosto, ela apenas o encarava, caia de seus olhos lágrimas de emoção, mágoa, abandono. Eles apenas se olharam, um olhar profundo cheio de duvidas, perguntas e respostas que nunca vieram.

_Por que, demorou tanto? – Foram as únicas palavras de minha mãe. Eles se abraçaram e o resto vocês já até imaginam. Foi mágico, romântico. Até que ele subiu na canoa e num gesto de adeus partiu e nunca mais voltou.

A chuva havia passado, uma brisa suave nos confortava. Corri abracei minha mãe. As borboletas sobrevoavam sobre o rio, os pássaros em silêncio ficaram e toda floresta se calou ao canto do irapurú. Vi meu pai desaparecer nas águas do rio. Compreendi naquele dia que a vida é cheia de surpresas e que o amor é algo tão simples, tão delicado que poucos são privilegiado, com tal sentimento.

Voltamos para casa, não lhe perguntei nada, apenas respeitei sua dor. Agora meu pai se tornara uma lenda, um mito, um homem que se perdeu nas margens do rio...

Por Vagda Santana, em 15 de abril de 2010, baseado na obra de Guimarães Rosa, A terceira Margem do Rio.

Sob a ótica da mulher

Ela é uma mulher forte, que vive a perda e o abandono do marido, mesmo sentindo sua ausência, precisa continuar vivendo, por si e pelos filhos. Mas o peso da responsabilidade é grande, em determinado momento não pode manter a fazenda sozinha, pede ajuda ao seu irmão. Manda trazer também, professores para os filhos, a fim de dar-lhes melhor educação. Ela ver o filho pegar comida e roupas, que leva para o pai, finge que não vê, deixa passar.
Faz de tudo para ele voltar, mandou chamar o padre e soldado, até jornalista apareceu no local, mas de nada adiantou, pois ele não deixava ninguém se aproximar. Continuava a margem do rio, nem o nascimento do neto o comoveu. Ela olhava aquele homem, melancólico e inerte sempre no mesmo lugar, na canoa a margem do rio. É muito difícil entender, porque mesmo ele ausente, ela continuava sentindo a presença dele, a margem do rio.

Antonia Torres Guimarães Costeseque
Belém, 07 de Abril de 2010

Simbolismo

A exemplo do realismo, tem seu auge durante a segunda metade do século XIX. Além de rejeitarem os excessos românticos, os simbolistas negam também a reprodução fotográfica dos realistas. Preferem retratar o mundo de modo subjetivo, sugerindo mais do que descrevendo. Para eles, motivações, conflitos, caracterização psicológica e coerência na progressão dramática têm importância relativa.
Autores simbolistas
Os personagens do Pelleas e Melisande, do belga Maurice Maeterlinck, por exemplo, são mais a materialização de idéias abstratas do que seres humanos reais. Escritores como Ibsen, Strindberg, Hauptmann e Yeats, que começam como realistas, evoluem, no fim da carreira, para o simbolismo. Além deles, destacam-se o italiano Gabriele d'Annunzio (A filha de Iorio), o austríaco Hugo von Hofmannsthal (A torre) e o russo Leonid Andreiev (A vida humana).
Auguste Strindberg (1849-1912) nasce em Estocolmo, Suécia, e é educado de maneira puritana. Sua vida pessoal é atormentada. Divorcia-se três vezes e convive com freqüentes crises de esquizofrenia. Strindberg mostra em suas peças - como O pai ou A defesa de um louco - um grande antagonismo em relação às mulheres. Em Para Damasco cria uma obra expressionista que vai influenciar diversos dramaturgos alemães.
Espaço cênico simbolista
Os alemães Erwin Piscator e Max Reinhardt e o francês Aurélien Lugné-Poe recorrem ao palco giratório ou desmembrado em vários níveis, à projeção de slides e títulos explicativos, à utilização de rampas laterais para ampliar a cena ou de plataformas colocadas no meio da platéia. O britânico Edward Gordon Craig revoluciona a iluminação usando, pela primeira vez, a luz elétrica; e o suíço Adolphe Appia reforma o espaço cênico criando cenários monumentais e estilizados.
Fonte: www.teatrosdecultura.com
Teatro Simbolista
Nas histórias do movimento simbolista não se deu muita atenção ao teatro que se originou dele. Embora existam vários estudos, todos eles abordam o tema do ponto de vista do desenvolvimento teatral em vez do poético, e dentro de limites nacionais em lugar da vantajosa perspectiva não-nacionalista.
Foi a estrutura dramática um dos sucessos mais verdadeiros e duradouros que o movimento simbolista criou para a poesia, estrutura que ia além do verso esotérico e íntimo.
As mutações que o simbolismo realizou na escritura do verso nada são, com efeito, quando comparadas aos assaltos feitos à forma dramática. Todavia, o irônico é que não foi a vais das platéias nem a zombaria dos jornalistas, mas os comentários eruditos e lógicos dos especialistas de teatro, que tentaram censurar e por fim demolir o teatro simbolista.
Dois são os maiores defeitos do teatro simbolista:
Nenhuma caracterização e nenhuma oportunidade de interpretaçãoFalta de crise ou conflito (A morta resolve tudo independentemente de nós)
Este tipo de teatro não continha ideologia (Coisa muito comum agora mas naquele momento histórico isso representava uma falha enorme.
Do ponto de vista poético, o teatro simbolista é freqüentemente mais bem sucedido onde o verso não consegue realizar os objetivos simbolistas. A ambigüidade do discurso pode ser representada mediante uma relação equívoca entre as personagens e os objetos que as cercam, no teatro simbolista nenhum objeto é decorativo; ele está ali para exteriorizar uma visão, sublinhar um efeito, desempenhar um papel na subcorrente de acontecimentos imprevisíveis.
Contudo, um teatro do simbolismo se desenvolveu, não diretamente de Mallarmé, mas do seu entourage simbolista, que corpificou seu sonho da projeção verbal e visual e exteriorização dos ingredientes que constituem o poder da música; comunicação não racional, excitação da imaginação e condução à visão subjetiva.
Strindberg, Ibsen, Tolstói e Shakespeare contrastavam flagrantemente com a cena teatral local do teatro naturalista. Lugné-Poe reconheceu a necessidade de um novo conceito de teatro e preparou o terreno para o teatro simbolista ao acostumar suas audiências a um teatro santuário, mais um lugar para meditação do que para predicação.
L’ Intrusa é uma preciosidade do teatro simbolista, completamente clara e perfeita quando julgada segundo os padrões simbolistas. O tema é abstrato: a própria morte. Toda encenação é verdadeiramente simbolista, sem qualquer localização especifica ou materialização da idéia. O que se simboliza é a ausência e a passagem dela através de um décor e entre as pessoas que estão nele, e todas reagem à passagem não como entidades separadas mas como uma unidade sinfônica, modulando-se entre si, repetindo-se em sua fala e movimento a uma simples harmonia, em vez de a qualquer conflito pessoal ou particular.
A maior contribuição de Maetelinck ao teatro simbolista foi Pelléas et Mélisande. Também neste caso, o tema, o enredo e as personagens são estereotipadas e sem originalidade. A peça trata do eterno triângulo: dois irmãos amam a mesma mulher que está casada com um deles.
A peça começa com um encontro casual do herói com a heroína e termina com a natural, embora prematura, morte desta. As personagem não tem nenhum controle sobre qualquer acontecimento, tampouco a tragédia resulta do fracasso das paixões humanas ou da vingança dos deuses.
No simbolismo - como na filosofia de Schopenhauer, com a qual tem grande afinidade -, são mais uma vez as forças exteriores que escapam ao controle da vontade do homem e o colocam entre a vida e a morte, dois pólos da origem misteriosa, inexplicáveis para ele e controlados pelo acaso. Também o tempo é um elemento que está além do controle humano. O caráter determinista e não providenciais das forças exteriores retira do homem a noção de propósito, objetivo e vontade, o significado de qualquer "coup de dés" que se queria tentar. Tanto o simbolismo quanto o naturalismo são, neste sentido, materialistas.
Os incessantes esforços feitos por diretores e cenógrafos inventivos, capazes de criar efeitos técnicos de iluminação e decoração afinados ao estado de espírito das peças, têm feito com que estas sejam representadas de vez em quando como manifestações de um "Teatro de arte". A este respeito, o teatro simbolista tem recebido uma importante ajuda por parte dos avançados processos fotográficos, que podem expressar no cinema as ilusões difíceis de se conseguir no palco.
Anna Balakian





Simbolismo
A partir de 1881, na França, poetas, pintores,dramaturgos e escritores em geral, influenciados pelo misticismo advindo do grande intercâmbio com as artes, pensamento e religiões orientais - procuram refletir em suas produções a atmosfera presente nas viagens a que se dedicavam.
Marcadamente individualista e místico, foi com desdém apelidado de "decadentismo" - clara alusão à decadência dos valores estéticos então vigentes e a uma certa afetação que neles deixava a sua marca. Em1886 um manifesto traz a denominação que viria marcar definitivamente os adeptos desta corrente: simbolismo.
Principais características
Subjetivismo
Os simbolistas terão maior interesse pelo particular e individual do que pela visão mais geral. A visão objetiva da realidade não desperta mais interesse, e sim está focalizada sob o ponto de vista de um único indivíduo. Dessa forma, é uma poesia que se opõe à poética parnasiana e se reaproxima da estética romântica, porém mais do que voltar-se para o coração, os simbolistas procuram o mais profundo do "eu", buscam o inconsciente, o sonho.
Musicalidade
A musicalidade é uma das características mais destacadas da estética simbolista, segundo o ensinamento de um dos mestres do simbolismo francês, Paul Verlaine, que em seu poema "Art Poétique", afirma: "De la musique avant toute chose..." (" A música acima de tudo...") Para conseguir aproximação da poesia com a música, os simbolistas lançaram mão de alguns recursos, como por exemplo a aliteração, que consiste na repetição sistemática de um mesmo fonema consonantal, e a assonância, caracterizada pela repetição de fonemas vocálicos.
Transcendentalismo
Um dos princípios básicos dos simbolistas era sugerir através das palavras sem nomear objetivamente os elementos da realidade. Ênfase no imaginário e na fantasia. Para interpretar a realidade, os simbolistas se valem da intuição e não da razão ou da lógica. Preferem o vago, o indefinido ou impreciso. O fato de preferirem as palavras névoa, neblina, e palavras do genêro, transmite a idéia de uma Obsessão pelo branco (uma característica não tão importante do simbolismo) como podemos observar no poema de Cruz e Sousa:
"Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras..." [...]
Dado esse poema de Cruz e Sousa, percebe-se claramente uma obsessão pelo branco, sendo relatado com grande constância no simbolismo.
Literatura do simbolismo
Os temas são místicos, espirituais, ocultos. Abusa-se da sinestesia, sensação produzida pela interpenetração de órgãos sensoriais: "cheiro doce" ou "grito vermelho", das aliterações (repetição de letras ou sílabas numa mesma oração: "Na messe que estremece") e das assonâncias, repetição fônica das vogais: repetição da vogal "e" no mesmo exemplo de aliteração, tornando os textos poéticos simbolistas profundamente musicais.
O Simbolismo em Portugal liga-se às atividades das revistas Os Insubmissos e Boêmia Nova, fundadas por estudantes de Coimbra, entre eles Eugênio de Castro, que ao publicar um volume de versos intitulado Oaristos, instaurou essa nova estética em Portugal. Contudo, o consolidador estará, a esse tempo, residindo verdadeiramente no Oriente - trata-se do poeta Camilo Pessanha, venerado pelos jovens poetas que irão constituir a chamada Geração Orpheu.O movimento simbolista durou aproximadamente até 1915, altura em que se iniciou o Modernismo.
Escritores simbolistas
Pode-se dizer que o precursor do movimento, na França, foi o poeta francês Charles Baudelaire com "As Flores do Mal", ainda em 1857.
Mas só em 1881 a nova manifestação é rotulada, com o nome decadentismo, substituído por Simbolismo em manifesto publicado em 1886. Espalhando-se pela Europa, é na França, porém, que tem seus expoentes, como Paul Verlaine, Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé.
Portugal
Os nomes de maior destaque no Simbolismo português são: Camilo Pessanha, António Nobre, e Eugénio de Castro.
Brasil
No Brasil, dois grandes poetas destacaram-se dentro do movimento simbolista: Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens. No primeiro, a angústia de sua condição, reflete-se no comentário de Manuel Bandeira do Basil: "Não há gritos mais dilacerantes, suspiros mais profundos do que os seus".

A Terceira Margem do Rio - Análise sob a luz da psicanálise

A história é centrada em três personagens: o pai, o filho e a mãe.
No início o autor descreve a personalidade do pai, que podemos
identificar como Significante, possuidor de características que vão se
definir com as funções acumuladas da figura do pai simbólico.
O pai era "homem cumpridor, ordeiro e positivo".
Em seguida ele fala sobre a mãe e pode-se notar que ela detém uma das
funções do pai, era ela quem impunha a ordem e a disciplina aos filhos,
nas coisas de casa e na vida cotidiana.
Um dia o pai resolveu mandar construir para si uma canoa, com
características de um objeto duradouro, dando a impressão de que ele
iria usar durante muito tempo.
A idéia da construção da canoa ameaça no pensamento da mãe as funções
do pai de família e com as coisas da casa, enveredando pelo caminho da
falta de cuidado com essas coisas através da pescaria e ou da caçada.
Mais adiante, ao contrário do que ela poderia imaginar, o pai está
cumprindo sua função, está assumindo a sua posição de pai símbolo, de
forma extremamente exagerada, afastando-se de tudo que não pertence ao
símbolo.
Quando a canoa ficou pronta, o pai despediu-se, não fez recomendações
nem mala, dando a impressão de que iria para longe. A mãe não impediu,
nem reclamou, ao contrário, foi condescendente. Ela não estava pronta,
preparada para se por em conflito, ela sacrifica sua própria opinião
para não ter que se expor como o próprio texto diz: "nossa mãe muito não se demonstrava..."
O pai chama o filho, que mesmo com medo da mãe, obedientemente o
segue. A figura do pai é muito forte, o filho admirava suas atitudes
mesmo sem compreender, e até deseja ir com ele.
O pai não voltou nem foi para longe, tinha ido embora, mas permanecia
ali perto. Começando a mostrar gradativamente que está em seu estado de
suspensão entre o consciente e inconsciente. Discurso do analista.
A atitude absurda do pai começa a surtir efeito nas pessoas ao redor,
os parentes que nunca haviam se reunido antes, se reuniram para
discutir a respeito da lacuna deixada por aquele homem.
Diante da prudência e da sensatez que a mãe apresentava a família e os
vizinhos não encontrando motivo que justificasse a atitude do pai, só
conseguiram imaginar que estivesse louco. Outros tentaram encontrar uma
possibilidade que tivesse ligada a uma doença ou algum pagamento de
promessa.
O pai que se aproxima do mito ou que está começando a se tornar uma
figura mítica, nele a psicanálise reconhece que obedece a uma exigência
interna relativa a realidade psique do desejo.
O filho passa a alimentar o pai acabando com a possibilidade de desistência por falta de comida.
A mãe sabia e consentia, até ajudava, mas não se expondo. A mãe só agia
por meios "laterais", chamando o tio, o professor para as crianças, o
padre... Pessoas que podiam compensar a ausência do pai. Se percebe a
alienação da mãe porquanto vive em função da família.
Quando o pai se afasta, o único a expressar a dor e a ausência dele é o
filho quando diz que só se entendia com o pai, enquanto os outros
procuravam não pensar nisso, aceitando a falta do pai como uma coisa
dolorosa, mas que cabia na vida do dia-a-dia.
O pai, que possui o discurso do analista, na sua "loucura", causa
histeria em toda a família. O silêncio, de um lado, corresponde ao
silêncio da família.
Mais tarde, quando a irmã se casa, a mãe não faz festa. Se ela bloqueia
a sua falta de um lado, também não quer chamar atenção para ela, já que
bloqueou o desejo e sufocou o impulso de ir buscar o marido.

O filho expressa o modelo que o pai era para ele: "Foi pai que um dia me ensinou assim...". Discurso do universitário.
A família vai embora, cada um seguindo o seu caminho, mas o filho fica,
persistindo em sua busca, sem mesmo saber ao certo o que buscar. Quando
quis ir atrás da verdade, sem esperar pelo pai, e teve a idéia de fazer
assim, descobriu que o homem que havia construído a canoa estava morto,
ficando a última possibilidade de saber, sem ter que entrar em contato
com o pai, fora de alcance.
Os questionamentos internos do filho ficam cada vez mais fortes.
Questionando a imaginação das pessoas ao redor, que imaginaram que o
pai fosse o avisado tal qual Noé e que a canoa fosse o equivalente a
arca. Assim temendo o fim-do-mundo e o pai se equiparando ao mito
enquanto se misturava ao próprio rio. Constante em sua presença,
constante em sua ausência.
O filho sentia culpa e pena, tornara-se obsessivo, esperava que a
descoberta da verdade substituísse a sua falta, mas não via a si mesmo.
Enquanto torturado pelo sentimento de culpa, questionava sua própria
loucura, mas como ele disse, a palavra louco em sua casa não se usava.
Todos eram loucos ou ninguém era, aparecendo assim a idéia, em que se
baseiam os padrões da psicanálise, de que o indivíduo que possuiu a
patologia, acaba por fazer os outros perceberem os elementos anormais
que existem em todas as pessoas, quebrando o conceito de anormalidade
dessas pessoas, mas num grau menor que no indivíduo que possui a
patologia.
O filho acaba por descartar a possibilidade de sua própria loucura e
vai ao encontro do pai e propõem que troquem de lugar. Sente que agiu
de forma correta e que seu coração se confortava com essa atitude.
Porém o filho, que sentia culpa e medo, não estava pronto para aquele
encontro, achando que tinha a obrigação de salvar o pai, mas não teve
coragem ao ver diante de si aquilo que por tanto tempo havia esperado,
sem ao certo saber porque apavorou-se, voltou atrás, e fugiu, deixando
para trás a possibilidade de compreensão. Acaba por se frustrar e por
fim recorre ao símbolo como esperança de libertação, que seja no tempo
de sua morte, dizendo que quando morresse, seu corpo fosse depositado
numa canoa, no meio do rio. Talvez para ter o mesmo destino do pai,
para se juntar a ele ou como forma de autopunição.
O filho que esperava que a descoberta da verdade que aparece com seu saber, que é o Significado, pudesse substituir a sua falta.
Pai e filho são imagem invertida no espelho, discursos opostos, o pai a
ponto de trocar de lugar com o filho, mas o filho não estando pronto
para isso.
Viagem que vai do mínimo ao máximo, na aventura em busca do infinito e,
ao mesmo tempo, na viagem da circularidade temporal em que a obra se
desenvolve, na união possível desses extremos que se tocam-se simboliza
o infinito.
______
- BAGGIO, Angela M Brasil. Psicologia do Desenvolvimento. Petrópolis: Vozes, 1983.
- FREUD, Sigmund. Freud. Documentos, 1969.
- MAGNO, Machado Dias. Rosa Rosae.
- ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972.

sábado, 10 de abril de 2010

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Conto sob a ótica do filho

Meu pai homem prosaico, igual a todos, cumpridor dos deveres, obediente as leis, um pacato cidadão que um dia encomendou uma singular canoinha e saiu a remar pelo rio rompendo uma ordem, uma santa trindade: a sagrada família. Estabelecendo outra: ele, a canoa e o rio, para ir em busca da sua bem aventurança fazendo grande sacrifício.

O pai é um herói? Alguém que da a vida por algo maior que ele mesmo? Sentiu faltar algo entre as experiências permitidas aos membros de nossa sociedade?

Assim partiu numa aventura que ultrapassa o usual, para então retornar com uma nova mensagem, as boas novas que nos levaram ao outro nível de existência?

Será ele um Cristo expiando alguma falta nossa, sendo assim a canoa a sua cruz? Jonas indo para beira do rio e deixando-se engolir pela sua baleia/ canoa para depois ressurgir rumo a uma nova vida?

Talvez Buda recolhendo-se em isolamento na sua canoa feita da arvore “bo”, a arvore da vida e do conhecimento imortal para receber sua iluminação? Ou Noé, Ulisses, a Cobra Norato, Miguel dos Santos Prazeres, Carontes, Osíris?

Tantas possibilidades tantas duvidas e nenhuma resposta, porem não são as certezas que nos fazem ter fé e continuar a viver, são as inquietações de nossas almas, os grandes mistérios, o não saber. Tornei-me sacerdote de meu pai velando todos os dias sua silueta sombria do leito do rio, levando-lhe comida e conservando sua memória.

Criei uma nova religião, uma religação, uma nova trindade: o rio, meu pai e eu. Porem também sou filho do meu tempo, desejei que a grande revelação me fosse dada de graça nesse sistema de religião fácil, igual a qualquer fiel que vai a igreja e senta no banco esperando escutar os sagrados mistérios todos bem explicadinhos . Sim, eu também esperava que meu pai viesse ate a margem do rio e me contasse suas motivações, para poder entender as minhas e o meu destino.

Contudo isso é uma busca individual, ninguém vai nos dizer o que fazer de nossas vidas ou o que diabos é a terceira margem, isso é algo que se descobre sozinho.

Compreendi o meu destino minha bem aventurança bem mais tarde, só na velhice que era tomar o seu lugar, mas quando esse momento chegou, eu temi. Por que eu fugi? Por que eu o trai? Não consegui pagar o preço. Sou o único assim? Ainda há salvação para mim?

Fabrício de Souzsa

terça-feira, 6 de abril de 2010

O Conto, sob a ótica do Padre

Aquele homem? Sim, é verdade. Aconteceu, de fato. Eu estava ali, presenciei tudo. O que aconteceu com ele? Ninguém nunca soube... Tentei salvá-lo de alguma forma, fazê-lo regredir daquela decisão sem sentido. Tentei. Tentei, de toda força, fazer com que aquele homem ouvisse a palavra do verdadeiro Pai. Mas não havia nada que pudesse fazê-lo regressar. Ele devia estar coberto por escamas espirituais. Cego! Até hoje, não consigo compreender. Aliás, prefiro sequer lembrar. Foi de fato lamentável.

Personagens que identifiquei

Pai;
Filho;
Mãe;
Irmã;
Marido da irmã;
Filho da irmã;
Irmão;
Parentes, vizinhos, conhecidos;
Tio;
Mestre;
Padre;
Jornalistas;
Soldados;
Homem que aprontou a canoa;
Rio, canoa, água, tempo, e o que mais a imaginação permitir.

Alguém tem alguma outra sugestão?

segunda-feira, 5 de abril de 2010