quarta-feira, 21 de abril de 2010

Ótica do pai


A vida aqui segue andando pacata, ordeiro, igual...  E eu como as outras pessoas desse lugar, acompanho o ritmo dessa vida.
Consideram-me um homem cumpridor dos deveres, ordeiro e quieto e é dessa maneira que minha família me enxerga, por fora é de fato  assim que sou. Estaria tudo certo e normal se por fora se combinasse, fosse igual por dentro, mas não é o que acontece.
                Por dentro, porque tanta insatisfação, tantos questionamentos e esse turbilhão de sensações e aflições, essa eterna agonia?  Inquietude... Pasmaceira.
Cheguei à conclusão, observando-o por minha vida toda, que sou como ele -o rio - quieto, ordeiro, silencioso... Mas basta ser provocado, por um rajado de vento que seja pra ele se rebelar e quando por uma tempestade então..., para que se conheça a sua força, a sua fúria, a sua grandeza, aí ele se mostra gigantesco, poderoso, como realmente é a sua natureza.
O que verdadeiramente existe nas suas profundezas e da sua misteriosa existência, ninguém seguramente sabe.
Continuo sonhando constantemente com o rio, confundo a minha realidade com o sonho do rio. Eu sou eu, eu sou o rio, o rio sou eu...
Agora sim... nesta minúscula canoa, eu me completo com o rio e o rio se confunde comigo, estou calmo, ordeiro, quieto em paz com a minha natureza... Eu sou a terceira margem do rio.

SELMA MARIA SANTOS BRANDÃO

Nenhum comentário:

Postar um comentário