domingo, 9 de maio de 2010

Na visão do irmão caçula

O meu tempo aqui findou, amanhã vou embora, em busca de alguma cidade onde ninguém tenha ouvido falar na estória do meu pai, na nossa estória, deixarei tudo isso pra trás, não falarei, nem pensarei mais nesse acontecido. O que ninguém sabe é que hoje o nosso pai de foi para sempre... ou melhor se encantou, se integrou definitivamente no rio,ele agora é também rio... mistério...
Sempre soube, ao contrário do que todos imaginavam,o que se passava com o nosso pai... suas aflições, seu descontentamento, sua eterna agonia, não havia mais jeito,ele fora dominado pelo rio, e o próprio rio deu a ele tudo que ele precisava para cumprir o seu destino – sobreviver, viver e existir em paz – dessa forma osso pai era plenamente feliz. A mim até então coube viver a retaguarda de nosso pai, de todos e de tudo, essa era a minha sina... , acabou afinal !!!
Sigo em paz, pois sei que os meus estão bem, minha irmã já se mudou com o marido e o filho pra longe daqui e não demora nossa mãe seguirá os passos dela. Sofro por nosso irmão, que ao não entender a sina do nosso pai, ficou perdido entre o seu próprio destino e o destino dele... mas um dia ele se encontrará – ou não – Deus o guarde.
O rio agora ficará calmo por muitas gerações, até que apareça outro ser encantado como nosso pai e repita o seu viver, dando continuidade ao encanto e magia do rio, esse rio que nos dá e também nos tira a vida, esse rio que tem pensar, saber e vontade própria e até parece gente... quem sabe se não é...; ou deus como Poisedon, esse rio que para viver e da vida não se basta com belezas e duas margens e de tempos em tempos precisa de alguém encantador e encantado para ser a sua terceira margem.

Selma Santos

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