domingo, 9 de maio de 2010

Visão de Guimarães Rosa

Nas minhas andanças, a história de um homem vivendo numa canoa próximo a margem do rio, de onde não saia nunca em nenhuma circunstância, me impressionou muito. Isto aconteceu num vilarejo num desses inúmeros sertões do Brasil. Um lugar quieto, sossegado e tranqüilo, cortado por um imenso rio de águas tranqüilas de onde de uma margem não se avistava a outra. Um rio bonito, num lugar lindo, agradável, de clima tropical cercado de vegetação rasteira, típica da região, com algumas árvores e muitos arbustos, que atraía para o lugar diversos tipos de pássaros e insetos que juntamente com a paisagem transformava tudo em um verdadeiro arco-íris, devido a variação de cores existentes. Os dias de sol e as noites de lua cheia nessa região são genuínas pinturas, um quadro perfeito de um grande artista.
Essa história poderia ser contada sob diferentes óticas: de qualquer membro da família, de um parente, de um amigo, de um vizinho, de um conhecido ou mesmo de algum outro ser, animal, coisa ou objeto, mas eu preferir contá-la na visão do filho mais velho, pelo fato dele ter se envolvido tanto com a situação do pai ao ponto de passar a viver completamente em função deste em detrimento da sua própria vida, perdendo assim a sua identidade.
Comove–me muito a reflexão que tive do ser humano a partir dessa história. Quantos canoeiros iguais aquele homem existem por ai neste mundão de Deus?... É só olhar em volta para enxergar-los, é só vê.
Recordo-me que em Salvador, capital da Bahia, na Liberdade (o bairro mais populoso da cidade) existiu há poucos anos, um jovem homem com mais ou menos uns trinta anos , que circulava pelas ruas entre os transeuntes completamente coberto de lama e quando esta secava ele se lambuzava de novo e continuava a sua caminhada em silencio, com aparência tranqüila, olhar fixo no horizonte, sem esbarrar em ninguém , sem emitir nenhum som , de tempos em tempos ele sumia e quando menos se esperava, lá estava ele nas ruas de novo, cabelos e barbas longas ,isso durante muitos e muitos anos, como apareceu, sumiu - o curioso para mim e as outras pessoas que o viram por muitos anos, é que a impressão que dava era a que ele não envelhecia . Era conhecido como o “homem sujeira do mundo”.
Em São Paulo no Parque do Ibirapuera, quem não ouviu falar do “profeta”, um homem de estatura mediana, idoso, magro, cabeludo e barbudo que circulava pelo parque gesticulando e gritando, falando coisas sem nexo, dizendo que o rio ia virar mar e o mar virar sertão, que os alimentos iriam acabar, não haveria mais árvores, florestas, matas, água para beber e haveria enchentes, inundações, seca, fome, frio e que o mundo iria se acabar. Pois é, ai está o aquecimento global e o nosso “profeta”, inspira hoje o homem propaganda da TV.
Eles podem ser encontrados em qualquer lugar do mundo em qualquer parte do planeta em praias, ruas, matas, florestas, praças, parques, etc... Por exemplo, em Nova York , no Central Parque temos a mulher árvore, em Paris ás margens do rio Sena, o homem apaixonado, em Roma ao redor da fonte dos desejos, os sonhadores, ... Eles são o nosso homem da canoa, a terceira margem do rio.

P.S.: Peço desculpas ao Dário (nosso diretor), aos colegas e especialmente ao MESTRE GUIMARÃES ROSA, por meu devaneio.
Selma Santos

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